sábado, 1 de dezembro de 2012

Um Papel em Branco



Já se tornou rotineiro esse acontecimento. Um acontecimento que se repete por mais vezes do que aquelas que gostaria. 

Sento-me muito direitinho numa espaçosa cadeira. Daquelas que proporcionam o devido conforto ao corpo para que este, depois, não sirva de desculpa para desistências. Coloco os braços sobre a secretária onde uma folha em branco aguarda pacientemente pelo meu gênio criativo. Agarro a minha caneta favorita e, ao fim de poucos segundos, percebo que nem sequer as primeiras palavras sou capaz de traçar.

Num fenómeno que ocorre quase sempre da mesma forma, tentativa após tentativa, expiro exasperadamente enquanto uma onda de frustração me invade e me obriga, invonluntariamente, a batucar com os dedos no tampo da secretária. 

Controlo-me. Penso nos factores que possam justificar a presença desta barreira inoportuna que me impede de aceder à fonte criativa. No entanto, não existem grandes justificações quando percebo que essa barreira foi erguida por mim, mesmo que contra a minha vontade. 

Dentro e fora do meu quarto manifestasse o silêncio, esse bom companheiro. Não há nada que me possa distrair a não ser os meus inuteis pensamentos sobre a minha incapacidade de escrever. 

A ponta da caneta está suspensa escassos centimetros sobre o papel em branco, ameaçando e ameaçando... Mas por agora são ameaças vãs... O meu olhar permanece fixo no papel, ao ponto de quase o perfurar, caso o grau de concentração desse para tanto, tentando visualizar coisas que insistem em não se revelarem. 

Desisto. Levanto o olhar para os vários livros que repousam sobre as prateleiras da estante. O resultado também é desanimador. Nenhum deles oferece uma pequena ideia que seja para que formule esta penosa primeira frase. 

Minutos depois, apercebo-me que mal mudei de posição na cadeira e que nenhum pensamento válido consegue colorir sob a forma de palavras a página em branco. Porém, para não desistir uma vez mais, escrevo uma palavra. Uma palavra qualquer. Escrevo-a muito lentamente e na melhor caligrafia possível.    

Na minha mente, essa palavra assume uma forma, uma representação. Assim, no papel em branco que está no interior da minha cabeça, qual rascunho mental, existe uma imagem dessa palavra que vem substituir o branco do vazio. Outra palavra é escrita no papel e representada na mente. Esta relaciona-se com a anterior e cria uma ponte para as seguintes. Com mais algumas palavras acabo por estabelecer uma frase, que evidencia uma acção. Acções desencadeiam outras acções e, por isso, as frases seguintes surgem como consequências das anteriores. Uma história começa a ganhar forma. 

O papel já não está em branco. Da minha mão brota uma torrente de palavras cujo fluxo só é interrompido nos espaços em branco, entre palavras. De forma distante sinto o passar do tempo enquanto continuo na absorta tarefa de escrever...   


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