Estás sozinha na escuridão, dentro da tua própria mente. Interiorizas, procurando alcançar um caminho que te possa levar a uma solução, a uma resposta para justificar o momento que estás neste momento a viver.
A resposta que procuras, no entanto, está muito longe. Escondida a uma grande profundidade na tua mente, em recônditos de dificil acesso, mesmo para ti, que muitas vezes és dela prisioneira.
Os teus olhos fecham-se, mas não deixam de ver. Eles viram costas ao mundo exterior para encararem o mundo que está dentro de ti, que é tão ou mais vasto. Inspiras...expiras...uma e outra vez, num ritmo constante, num propósito meditativo. A respiração funciona como um ascensor, uma corda que fica pregada ao mundo desperto e pela qual deslizas, fornecendo-te uma passagem segura para os niveis mais inconscientes da tua mente.
São estreitos os caminhos que percorres e cheios de uma nebulosa escuridão que vais dissipando com a luz do teu raciocinio analitico, para que tu saibas identificar a resposta que precisas quando a encontrares. És uma equilibrista, dando passo por passo, atravessando esse limbo, em que de um lado está o mar da inconsciência e do outro o ceu da consciência. Meditas, respiras, na busca desse equilibrio vital, para que possas levar a tua consciência a embrenhar em reinos que não são da sua pertença.
No fim desse caminho vês uma árvore. Não é uma árvore qualquer. Ela é enorme, emanando um azul espectral. As suas raízes afundam-se num manto de escuridão, atingindo profundidades ainda maiores que aquelas a que já chegaste; raízes que conduzem à Origem. O seu tronco é amplo e musculado e as suas cascas evidenciam a sua longevidade milenar. A adornar os seus ramos estão os seus frutos, estranhos objectos luminescentes. E um deles, em particular, chama a tua atenção.
Aproximas-te da árvore e começas a trepá-la para alcançar esse fruto que apela por ti mais do que qualquer outro. Enquanto trepas juras sentir um forte e constante pulsar a reverberar no interior desse ser antigo. Um pulsar que ocorre em sintonia com o ritmo da tua respiração como se, na verdade, tu e essa árvore fossem uma só entidade.
Quando o teu braço se estica para colher esse fruto de luz, percebes que ele é na verdade uma fotografia, uma imagem viva que corresponde a um determinado tempo e lugar da tua vida. O reconhecimento surge-te, então, de uma forma abrupta e violenta, enquanto seguras em contemplação esse momento que viveste na tua infância e que há muito tinhas esquecido. Mas nada é esquecido, nada se perde...
Tens nas tuas mãos a resposta à pergunta que colocaste e ela chama por ti. Agora não há retorno. O enorme poder dessa recordação chama por ti e tu deixas-te projectar, em entrega total, a esse momento já vivido para revivê-lo novamente.
Como um pedaço de memória conjurado, focas a luz do teu entendimento para essa fugaz recordação e tentas com ela resgatar para o presente aquilo que ficou esquecido.