domingo, 25 de novembro de 2012

Uma Viagem...



Estou a sonhar. O meu sonho é uma viagem, um mergulho num turbilhão de imagens indistintas que se sobrepõem umas às outras enquanto atravesso diferentes camadas de consciência; profundezas abissais que conduzem a recônditos inexplorados da mente. Lentamente, a sensação de queda vertiginosa abandona-me e a escuridão nebulosa que me envolve dissipa-se para revelar algo de inusitado. 

Vejo-me a mim mesmo como uma presença libertada da rigidez dos corpos fisicos, tendo o Universo como pano de fundo para esta minha viagem. Sinto-me a ser atraído para um ponto especifico, muito luminoso, que parece estar numa outra extremidade desta vastidão de estrelas. Deixo-me guiar por essa força invisivel que me chama e movimento-me no espaço, deslizando suavemente por inexplicaveis matérias cósmicas como se fosse um cometa errante, no mais completo e purificante silêncio. 

O ponto luminoso aumenta de tamanho e desdobra-se num contorno arqueado. Este como se transforma numa passagem para uma outra dimensão que, por enquanto, se oculta de mim por um manto de luz brilhante. Não posso deixar de sentir um pouco de receio ao mesmo tempo que essa passagem se agiganta aos meus olhos. Para onde esta força invisivel me leva, eu não sei. O meu receio, contudo, é real e tangivel perante o desconhecido e o seu convite a conhecê-lo. Que futuro haverá para lá desse portal?

Eu olho para trás, para o passado. Relembro a minha longa caminhada, os passos que ficaram no caminho como reconhecimento das coisas que fiz e das coisas que acumulei nessa viagem e não posso deixar agora de vacilar com um forte sentimento de perda. Questiono a minha convicção, a minha fé, em aceitar o mundo desconhecido que essa força me quer mostrar. Pois se atravessar aquele portal perderei tudo aquilo que adquiri como meu, com todo o meu esforço. E será que haverá recompensas maiores que todas estas que já me pertencem? E que tipo de recompensas poderei encontrar que já não tenha encontrado nesta realidade?

O portal cresce em aparência, tomando a dimensão de um sol, mas também crescem as minhas dúvidas e incertezas. Volto a pensar. Relembrando a minha longa viagem desde memórias que me parecem agora tão distantes e na forma como eu parei no meu caminho. Parei porque pensara que tinha encontrado tudo aquilo que precisava. Mas a vida perdeu o seu entusiasmo quando percebi que as coisas que adquirira já nao me faziam feliz. Compreendo como as mesmas coisas se fizeram velhas com o tempo e se esgotaram nas suas capacidades de atrair o meu fascinio. Agora, habita em mim um imenso desejo de experimentar e sentir algo de novo e transcendente. Desejo de sentir rejuvesnescer o gosto pelo acto de viver na sua mais básica e sublime essência. 

Permito que a luz desse portal me envolva e me recolha no seu interior. Reconheço um futuro nessa luz, mas tampouco sei o quanto ele me reserva. E é essa tela luminosa, a existência de infinitas possibilidades a manifestarem-se para lá do véu, que me faz ver uma realidade onde eu posso criar livremente tudo aquilo que desejar. E apercebo-me dessa sabedoria interior, desse conhecimento profundo e intuitivo que me diz que o que preciso para esta viagem, eu já levo comigo. Levo-me a mim próprio, conscientemente, porque eu sou toda a ferramenta que necessito para viver. 

A luz engole-me. Um clarão cegante rasga o meu mundo conhecido e endereça-me a um outro lugar. Remoto, desconhecido, intemporal...